Vozes de um túmulo
Poema de Augusto dos Anjos
Morri! E a Terra - a mãe comum - o brilho
Destes meus olhos apagou!.. Assim
Tântalo, aos reais convivas, num festim,
Serviu as carnes do seu próprio filho!
Porque para este cemitério vim?!
Porque?! Antes da vida o angusto trilho
Palmilhasse, do que este que palmilho
E que me assombra porque não tem fim!
No ardor do sonho que o fronema exalta,
Construí de orgulho énea pirâmide alta...
Hoje, porém, que se desmoronou
A pirâmide real do meu orgulho,
Hoje, que apenas sou matéria e entulho,
Tenho consciência de que nada sou!
Fonte: "Eu", Edição do Autor, 1912.
Originalmente publicado em: "Eu", Edição do Autor, 1912.