a procissão - Oswald de Andrade

Oswald de Andrade,  poeta da primeira geração do modernismo brasileiro

Poema de Oswald de Andrade



Os chofers ficam zangados
Porque precisam estacar diante da pequena procissão
Mas tiram os bonés e rezam
Procissão tão pequenina tão bonitinha
Perdida num bolso da cidade
Bandeirolas
Opas verdes
Crianças detentoras de primeiros prêmios
De bobice
Vão passo a passo
Bandeirolas
Opas verdes
Um andor nos ombros mulatos
De quatro filhas alvíssimas de Maria
Nossa Senhora vai atrás
Um milagre de equilíbrio
Mas o que mais eu gosto
Nesta procissão
É o Espírito Santo
Dourado
Para inspirar os homens
De minha terra 
Bandeirolas
Opas verdes
O padre satisfeito
De ter parado o trânsito
Com Nosso Senhor nas mãos
E um dobrado atrás




Fonte: "Oswald de Andrade - Poesia Reunida", Editora Civilização Brasileira, 1974.
Originalmente publicado em: "Pau-Brasil", Sains Peril, 1925.