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Poema de Vicente de Carvalho
Implacável rancor do espirito à matéria,
Da ilusão à verdade,
Do que sonha ao que vive. Ó miséria, miséria!
Ó vaidade, vaidade!
A alma insubmissa e vã supõe-se encarcerada
No corpo, essa prisão,
- Ilha de um rude mar, princesa desterrada,
Flor caída no chão;
Considera-se como a fina essência, presa
Num vaso desprezado;
Vê no corpo um monte de infâmia e de torpeza,
De vício e de pecado.
A morte - como um fim de cativeiro encara
- Um romper de manhã,
A hora da partida ansiosa e livre para
As terras de Canaã.
Alma, é louco o desejo altivo, em que te abrasas,
De céus nunca atingidos:
Ai, que serias tu, pássaro, sem as asas,
Alma, sem os sentidos?
De céus nunca atingidos:
Ai, que serias tu, pássaro, sem as asas,
Alma, sem os sentidos?
Nos olhos se esvazie o olhar, que te revela,
Que descobre. ou que faz
Tanta extensão de azul, tanto fulgor de estrela,
Alma, que sonharás?
Alma, que sonharás, na silenciosa ausência
Do som - emudecida
Para o teu devaneio a vaga confidência
Dos sub-solos da vida?
Em vão levantas no ar as tuas fantasias
E as tuas ambições;
Arquitetas em vão tantas filosofias,
Tantas religiões.
Do som - emudecida
Para o teu devaneio a vaga confidência
Dos sub-solos da vida?
Em vão levantas no ar as tuas fantasias
E as tuas ambições;
Arquitetas em vão tantas filosofias,
Tantas religiões.
Para mais desterrar na morte a carne, morta
Por fim, enfim vencida,
Inventaste o pavor de um cárcere sem porta,
De um antro sem saída.
Por fim, enfim vencida,
Inventaste o pavor de um cárcere sem porta,
De um antro sem saída.
Inventaste-o debalde. O túmulo condena
O corpo à podridão,
Mas não te exime a ti da mesma escura pena
De apodrecer no chão:
O corpo à podridão,
Mas não te exime a ti da mesma escura pena
De apodrecer no chão:
Sangue que o coração alvoroça e amotina,
Vibração provocada
Dos nervos, e depois. um sonho da retina.
És tudo isso, e mais nada.
Fonte: "Poemas e Canções", Cardozo, Filho e Cia, 1908.
Originalmente publicado em: "Poemas e Canções", Cardozo, Filho e Cia, 1908.
Vibração provocada
Dos nervos, e depois. um sonho da retina.
És tudo isso, e mais nada.
Fonte: "Poemas e Canções", Cardozo, Filho e Cia, 1908.
Originalmente publicado em: "Poemas e Canções", Cardozo, Filho e Cia, 1908.