Sombras

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Poema de Cora Coralina



Tudo em mim vai se apagando.
Cede minha força de mulher de luta em dizer:
estou cansada.

A claridade se faz em névoa e bruma.
O livro amado: o negro das letras se embaralham,
entortam as linhas paralelas.
Dançam as palavras,
a distância se faz em quebra​-luz.

Deixo de reconhecer rostos amigos, familiares.
Um véu tênue vai se incorporando no campo da retina.
Passam lentamente como ovelhas mansas os vultos conhecidos
que já não reconheço.

É a catarata amortalhando a visão que se faz sombra.

Sinto que cede meu valor de mulher de luta,
e eu me confesso:
estou cansada



Fonte: "Vintém de cobre", Global Editora, 2012.
Originalmente publicado em: "Vintém de cobre: meias confissões de Aninha", Editora da UFG, 1983.

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