A visita
Poema de Nestor Victor
Vemos-nos face a face. Incendidos, magoados,
Como no eclipse o sol, são seus olhos funéreos.
Ela tem mãos de lobo. E os dois globos parados
Ficam no meu olhar, melancólicos, sérios.
Cabeça ao alto, entanto, ares transfigurados,
Em silêncio feral, deusa dos cemitérios,
Olho-te. Mas vede: audazes, rebelados,
Andam no meu semblante uns sorrisos aéreos.
Emfim... emfim se esvai! Finalmente desfeito
Vejo o negro fantasma. O coração eu sinto,
Ora, qual pedra bruta, estacado no peito.
Tenho, e percebo enfim, eriçado o cabelo,
Covas fundas na face, o sopro quase extinto,
E o corpo na algidez de uma estatua de gelo.
Fonte: "Transfigurações", H. Garnier, 1902.
Originalmente publicado em: "Transfigurações", H. Garnier, 1902.