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Poema de Souza-Andrade



Maria, porque choravas
Na minha triste partida?
Sou tão longe, escuto ainda
A tua queixa perdida!

0 nosso amor educado
Dos berços, na solidão,
Foi como a flor enganada
Aos bafos da viração.

Crescemos: e de inocente
Me davas o teu amor.
Amei-te! porque te amava.
Fui teu sevo ceifador.

Porém, essa flor colhida
À grata sombra da palma
Encanto! ideal mimoso!
Aroma eterna minh'alma.

Amei-te! tua voz de aragem
Ainda ouço, donzela,
Nos olhos meus embebida
Foste para sempre bela.

És comigo em céus estranhos
Toda formosa aldeã.
Inda juntos nos deitamos
Nas ramas do pirinan.

Os anos que vão descendo
Sejam dias de esperança.
À noite de tempestade
Sucede o sol da bonança.

Maria, dos olhos belos
As veias límpidas para,
Não laves do fogo as faces
Que eu amoroso beijara.

Maria, constância e vida
E todo esse amor de outrora:
Os anos a flor não murcham
Quando o amor não descora.



Fonte: "Harpas Selvagens", Tipografia Universal de Laemmert, 1857.
Originalmente publicado em: "Harpas Selvagens", Tipografia Universal de Laemmert, 1857.


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