A praia
Poema de Silva Alvarenga
Quem por ti de amor desmaia,
Nesta praia geme e chora;
Vem, pastora, por piedade
A saudade consolar.
Não recreiam sempre os montes
Com as delícias de Amalthea;
Vem, ó Glaura, a ruiva areia,
Rio e fontes animar.
Ninfa ingrata, não te escondas;
Teme os ásperos abrolhos;
E com teus serenos olhos
Vem as ondas acalmar.
Quem por ti de amor desmaia,
Nesta praia geme e chora;
Vem, pastora, por piedade
A saudade consolar.
Mergulhão verás ligeiro
Como cai precipitado
E o peixinho prateado
Leva inteiro a devorar.
Vem, cruel, não te detenhas,
Não me roubes a ventura;
Vem que já com mais brandura
Estas penhas lava o mar.
Quem por li de amor desmaia,
Nesta praia geme e chora;
Vem, pastora, por piedade
A saudade consolar.
Num rochedo vi dois ninhos;
Já são teus esses penhores;
E entre conchas, entre flores
Os pombinhos hás de achar.
Murcharão os dons mais belos
Da suave primavera,
Se não vens, ó dura, ó fera,
Teus cabelos enlaçar,
Quem por ti de amor desmaia,
Nesta praia geme e chora;
Vem, pastora, por piedade
A saudade consolar.
Vem a ver este remanso,
Estas árvores sombrias,
Onde, ai triste! ai longos dias,
Não descanso de esperar!
Se o amar te foi delito
E te agrada o meu tormento;
Vem ouvir o meu lamento,
Meu aflito suspirar.
Quem por ti de amor desmaia,
Nesta praia geme e chora;
Vem, pastora, por piedade
A saudade consolar.
Fonte: "Obras Poéticas", B. L. Irmãos Garnier, 1864.
Originalmente publicado em: "Glaura: poemas eróticos", Officina Nunesiana, 1799.