Inverno
Poema de Carmen Freire
Vão-se os anos e as cãs, aparecendo,
Tornam-me a vida lúgubre e sombria;
Nada me resta, e a carne é já tão fria
Que, apesar de viver, estou morrendo.
Não vive quem o amor não conhecendo
Não vê jamais o claro sol de um dia.
Que a luz do sol que as almas alumia
É o amor que as almas vai de luz enchendo,
Vivo e não vivo, e falecendo em vida
Como a lâmpada triste, pouco a pouco
Num claustro fulgurando amortecida,
Calma e tranquila deixa a vida ingrata,
Onde da luta o sofrimento louco
Cega, apunhá-la, dilacera e mata.
Fonte: "Visões e Sombras", Casa Mont'alverne, 1897.
Originalmente publicado em: "Visões e Sombras", Casa Mont'alverne, 1897.