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Poema de Cláudio Manuel da Costa
Não te assuste o prodígio: eu, caminhante,
Sou uma voz, que nesta selva habito;
Chamei-me o Pastor Fido; de um delito
Me veio o meu estrago; eu fui amante.
Uma ninfa perjura, uma inconstante
Neste estado me pôs: do peito aflito,
Por eterno castigo, arranco um grito;
Que desengane o peregrino errante.
Se em ti se dá piedade, ó passageiro,
(Que assim o pede a minha sorte escura)
Atende ao meu aviso derradeiro:
Lágrimas não te peço, nem ternura;
Por voto um desengano te requeiro
Que consagres à minha sepultura.
Fonte: "Obras poéticas", H. Garnier, 1903.
Originalmente publicado em: "Obras", 1768.