Antandra
Poema de Cláudio Manuel da Costa
Pastora do branco arminho,
Não me sejas tão ingrata:
Que quem veste de inocente
Não se emprega em matar almas.
Deixa o gado que conduzes;
Não o guies à montanha:
Porque em poder de uma fera
Não pode haver segurança.
Mas ah ! Que o teu privilégio
É louco quem não repara:
Pois, suavizando o martírio,
Obrigas mais do que matas.
Eu fugirei; eu, Pastora,
Tomarei somente as armas;
E hão de conspirar comigo
Todo o campo, toda a praia.
Tenras ovelhas,
Fugi de Antandra;
Que é flor fingida,
Que áspides cria, que venenos guarda.
Fonte: "Obras poéticas", H. Garnier, 1903.
Originalmente publicado em: "Obras", 1768.