Ao sr. Visconde da Pedra Branca

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Poema de Adélia Fonseca



Que preceito tirano m'impede
De voar pressurosa a teus lares?
De poder, na ventura de ouvir-te,
Extinguir da saudade os pesares?

Da saudade tão viva e profunda
Que, qual serpe, minh'alma envenena;
Vem tu, pois, esmagar este monstro
Que a tormentos cruéis me condena.

*

Com tuas sábias palavras
Vem m'ensinar a esquecer
Este mundo de mentiras,
Em que forçam-me a viver.

Ele, como tu bem sabes,
Tem costumes sociais
Que nos privam de fazermos
O que desejamos mais.


Em vão contra tais usanças
Pretendo me rebelar;
À elas cedo; sou débil;
Não posso lutas travar.

*

Tu, porém, podes rir, caro amigo,
D'este mundo de enredos cruéis,
Como o nauta animoso que canta
Afrontando do mar os parcéis.

Sim; tu podes zombar n'este mundo
Dos costumes que julgas tiranos,
Desprezando os espíritos fracos
Que os aprovam, que os seguem insanos.

*

Vem ensinar-me a esquecer
D'estes usos sociais
Que, sem razão, nos proíbem
O que desejamos mais.



Fonte: "Ecos da Minh'alma", Tipografia Camillo de Lellis Masson, 1866.
Originalmente publicado em: "Ecos da Minh'alma", Tipografia Camillo de Lellis Masson, 1866.

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