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Poema de Ildefonsa Laura César



Gozar de quantos favores
Tu, meu Bem, me podes dar;
De teus lábios escutar
A linguagem dos amores,
É ter da sorte os primores
Que à ti manda que eu recorra
E com ternura concorra
À teu suave prazer:
Mas ordena não dizer
De quem sou, inda que morra.

Dotes tais não esconder
À minha glória convinha:
Dar ideia, oh céus!, eu tinha
Dum tão ditoso querer.
Porém cumpre obedecer
A meu Bem, ao mando seu,
A quem o coração meu
Vive por gosto sujeito;
Se assim quer, se é seu preceito,
Isso nunca direi eu.

De meu Bem segredo seja
O nome, nome querido;
Mas não que vivo perdido
Por mimos q'amor almeja.
Se ao mundo não dou que veja
Quem tanto as graças excede,
Uma força há que me impede:
Qual minha bela não digo;
E tais ditames eu sigo
Porque, de quem sou, me pede.

Vede, oh mortais!, que ventura
Para mim guardava o Fado.
Amar, ser também amado,
Possuir tal formosura
Que excede toda pintura!
Quanto é bom tudo me deu,
O meu Bem me ofereceu
Terno amor, seu coração;
Mas com esta condição,
Que eu não diga que sou eu.



Fonte: "Ensaios Poéticos", Tipografia Epifânio J. Pedroza, 1844.
Originalmente publicado em: "Ensaios Poéticos", Tipografia Epifânio J. Pedroza, 1844.

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