Trecho de 'Dor e esperança'
Poema de Adélia Fonseca
O sopro fagueiro de brisa macia
Teu barco movia,
Teu barco impelia
Pra longe de mim;
E eu, enquanto ele levar-se deixava,
Sozinha chorava,
Sozinha acusava
Meu fado ruim.
*
Quando à noite em nosso lar
Tão solitária me achei,
E o lugar em que te via
Tão vazio contemplei,
Com que pungente saudade
Tristes prantos renovei!
Cheguei a pedir ao vento
- Que insensato pensamento! -
Me viesse arrebatar
E que me fosse a teu lado,
No sopro mais perfumado,
Ditosa e leda pousar!
Se tu, meu ídolo amado,
Se tu pudesses então,
Embebendo as tuas vistas
Dentro do meu coração,
Ver como o dilacerava
Da saudade a negra mão,
Oh! que bem conhecerias
O que dizer-te não sei;
Oh! que jamais duvidarias
Do amor que te jurei
Nesses olhares de fogo,
Com que tua alma queimei.
Fonte: "Ecos da Minh'alma", Tipografia Camillo de Lellis Masson, 1866.
Originalmente publicado em: "Ecos da Minh'alma", Tipografia Camillo de Lellis Masson, 1866.