Lira III (parte III)

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Poema de Thomaz Antônio Gonzaga



Leu-se-me em fim a sentença
Pela desgraça firmada;
Adeus, Marília adorada,
Vil desterro vou sofrer.
Ausente de ti, Marília,
Que farei? Irei morrer.

Que vá para longes terras,
Intimarem-me eu.ouvi;
E a pena que então senti,
Justos céus, não sei dizer!
Ausente de ti, Marília,
Que farei? Irei morrer.

Mil penas estou sentindo
Dentro n'alma; e por negaça
Me está dizendo a desgraça
Que nunca mais t'hei de ver.
Ausente de ti, Marília,
Que farei? Irei morrer.

Por deixar os pátrios lares,
Não me fere o sentimento;
Porém suspiro e lamento
Por tão cedo te perder.
Ausente de ti, Marília,
Que farei? Irei morrer.

Não são as horas que perco
Quem motiva a minha dor;
Mas sim ver que o meu amor
Tal fim havia de ter.
Ausente de ti, Marília,
Que farei? Irei morrer.

A mão do fado invejoso
Vai quebrando em mil pedaços
Os doces, suaves laços,
Com que amor nos quis prender
Ausente de ti, Marília,
Que farei? Irei morrer.

Da desgraça a lei fatal
Pode de ti separar-me;
Mas nunca d'alma tirar-me
A glória de te querer.
Ausente de ti, Marília,
Hei de amar-te até morrer.



Fonte: "Marília de Dirceu", Irmãos Garnier Editores, 1862.
Originalmente publicado em: "Marília de Dirceu", 1792.
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