Lira I (parte III)
Poema de Thomaz Antônio Gonzaga
Como alegre vem nascendo
A serena madrugada!
Já da aurora a luz dourada
Duvidosa vem raiando.
E tu descansando,
Marília formosa,
Escutar não vens
Minha voz saudosa!
O suave rouxinol
Já desampara o seu ninho;
E no torcido raminho
Namorado está cantando.
E tu descansando,
Marília formosa,
Escutar não vens
Minha voz saudosa!
O solícito pastor
Lá sai do pobre agasalho;
E pelo rude trabalho
O descanso vai deixando.
E tu descansando,
Marília formosa,
Escutar não vens
Minha voz saudosa!
Marília formosa,
Escutar não vens
Minha voz saudosa!
Ainda a luz matutina
Co'a noite s'equivocava;
Já eu, ó Marília, estava
Pelo teu nome chamando,
Co'a noite s'equivocava;
Já eu, ó Marília, estava
Pelo teu nome chamando,
E tu descansando,
Marília formosa,
Escutar não vens
Minha voz saudosa!
Não penses que, desgostoso,
Queixas formo contra amor;
Mil canções em teu louvor
Brandamente estou cantando.
E tu descansando,
Marília formosa,
Escutar não vens
Minha voz saudosa!
Canto ao som da minha lira
Tua rara perfeição,
Com que amor doura o grilhão,
Que alegre vou arrastando.
E tu descansando,
Marília formosa,
Escutar não vens
Minha voz saudosa!
Mas que sobressalto! Eu vejo
No prado andar uma estrela !
Ah não, é Marília bela,
Que para mim vem chegando.
Delícias deixando,
Marília formosa,
Vem meiga escutar
Minha voz saudosa.
Fonte: "Marília de Dirceu", Irmãos Garnier Editores, 1862.
Originalmente publicado em: "Marília de Dirceu", 1792.