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Poema de Ildefonsa Laura César



Quanto invejo de Pastora
O viver simples e bom!
Mas à mim negou o Fado,
Não quis tivesse esse dom.

Aquela no verde prado
Seu rebanho vê pastar; 
A Natureza contempla,
Que a deixa seus bens gozar.

Enquanto do sol ardente
Deixa passar o calor,
Cheirosas flores enrama
Para dá-las a seu amor.

Não fazem sua ventura
Vãs ilusões de grandeza;
Nem sofre cruéis motejos
Seu tratar com singeleza.

O ar mais sereno e puro,
O bosque, o risonho mar
Suas precisões reparam
Sem nisto se fatigar.

Cantando à borda do rio
Que banha alegre morada,
Seus projetos executa
Sem que seja censurada.

Isenta de austeras leis,
Pensa, ri, brinca se quer;
Ignorando rigorismos
É feliz onde estiver.

Pelos céus abençoados
Vê seus dias, seus prazeres,
Desempenhando mimosa
Seus mais sagrados deveres.

Sua glória, em ser querida
E querer, funda somente;
Carinhosa, tem carinhos
E assim vive contente.

Ai de mim! a quem a sorte
De tão altos bens privou!
Ditosos dias ainda
Comigo não partilhou.



Fonte: "Ensaios Poéticos", Tipografia Epifânio J. Pedroza, 1844.
Originalmente publicado em: "Ensaios Poéticos", Tipografia Epifânio J. Pedroza, 1844.


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