Trecho de 'O delírio'

Imagem de Adélia Fonseca

Poema de Adélia Fonseca



Já o sol esconde a fronte
Por detrás de altivo monte,
Deixando lá no horizonte
Vestígios do seu fulgor;
Já nessas nuvens douradas,
Nessas fitas abrasadas
Deixa as ardentes pegadas
Do seu ardente esplendor.

A noite já se avizinha,
E vem achar-me sozinha
Entregue à saudade minha
Que me fadou sorte ingrata!
Saudade que mais se aumenta
Logo que o dia se ausenta,
E mais profunda e violenta
Me desespera, me mata!

Porque dizes, Luso Vate,
Que da tarde no remate
O nosso coração bate
Com doce melancolia?
Porque ousaste afirmar,
Que era belo então cismar
Essa ventura sem par
Cheia de terna poesia?!

Tu não disseste a verdade;
Não luz a felicidade
A quem profunda saudade
Negreja no coração!
Não! não desfruta tal dita
Quem da ventura é proscrita;
Quem sofre a dor infinita
De desgraçada paixão!



Fonte: "Ecos da Minh'alma", Tipografia Camillo de Lellis Masson, 1866.
Originalmente publicado em: "Ecos da Minh'alma", Tipografia Camillo de Lellis Masson, 1866.

Tecnologia do Blogger.