A cocaína

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Poema de José Barbosa da Silva


Só um vício me traz
Cabisbaixa me faz,
Reduz-me a pequenina
Quando não tenho à mão
A forte cocaína

Quando junto de mim
Ingerindo em porção
Sinto sã sensação
Alivia-me as dores
Deste meu coração

Sinto tal comoção
Que não sei explicar
A minha sensação
Louca chego a ficar
Quando sinto faltar

Este sal ruidoso
Que a mim só traz gozo
Somente em olhar
Para dele esquecer
Eu começo a beber.

Quando estou cabisbaixa
Chorando sentida
Bem entristecida
É que o vício da vida
Deixa a alma perdida

Sou capaz de roubar
Mesmo estrangular
Para o vício afogar
Neste tóxico bravo
Que me há de findar

Ai!... Ai!...
És a gota orvalina
Só tu és minha vida,
Só tu ó cocaína

Ai!... Ai!... 
Mais que a flor purpurina
É o vício arrogante...
De tomar cocaína.



Fonte: "107 partituras de Sinhô", Instituto Piano Brasileiro, 2017.
Originalmente publicado em: Viúva Guerreiro & Comp. nº ch. 726, 1923.


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