Queixumes
Poema de Casimiro de Abreu
Olho e vejo... tudo é gala,
Tudo canta e tudo falia,
Só minh'alma
Não se acalma,
Muda e triste não se ri!
Minha mente já delira,
E meu peito só suspira
Por ti! Por ti!
Ai! quem me dera essa vida
Tão bela e doce vivida
Nos meus lares
Sem pesares
No sossego só d'ali!
Não tinha-te visto as trancas,
Nem rasgado as esperanças
Por ti! Por ti!
Perdi as flores da idade,
E na flor da mocidade
É meu canto
- Todo pranto,
Qual a voz da juriti!
No teu sorriso embebido
Deixei meu sonho querido
Por ti ! Por ti!
Ai! se eu pudesse, formosa,
Roçar-te os lábios de rosa
Como às flores
- Seus amores,
Faz o louco colibri;
Esta minh'alma nos hinos
Erguera cantos divinos
Por ti! Por ti!
Ai! assim viver não posso!
Morrerei, meu Deus, bem moço,
- Qual n'aurora
Que descora,
Desfolhado mogarim;
Mas lá da campa na beira
Será a voz derradeira
Por ti! Por ti!
Ai! não m'esqueças já morto!
À minh'alma dá conforto,
Diz na lousa:
"Ele repousa,
Coitado! descansa aqui!"
Ai! não t'esqueças, senhora,
Da flor pendida n'aurora
Por ti ! Por ti!...
Fonte: "Obras Completas", B L Garnier, 1887.
Originalmente publicado em: "Primaveras", 1858.