A primavera

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Poema de Francisca Júlia



Desponta clara a manhã;
os passarinhos em bando
cortam os ares, cantando
numa alegria louçã.

A primavera derrama
uma agradável frescura
sobre a nascente verdura;
dá cor às flores na rama.

O ar festivo do arrebol
dá-nos as belas primícias
das esplêndidas carícias
dos dias claros de sol.

Nasce a rosa; brota a espiga;
o boi vai para o trabalho;
a abelha, de galho em galho,
de grão em grão, a formiga.

A linda e fresca estação
vai afugentando em cima
a nuvem que se aproxima
como densa cerração.

De pé, em meio à pastagem,
o zagal saúda a aurora
com a harmonia sonora
da sua frauta selvagem.

Vacas, que estão a pastar,
em grupos, pelas campinas,
respiram pelas narinas
a doce frescura do ar.

Campônios, mal nasce o dia,
com as enxadas às costas,
lá vêm descendo as encostas
para as labutas do dia.

Já despontou a manhã;
os passarinhos em bando
cortam os ares, cantando
numa alegria louçã.



Fonte: "Poesia reunida de Francisca Júlia", escamandro, 2015.
Originalmente publicado em: "Esfinges", Typographia do Diario Official, 1899.

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