O Tempo
Poema de Júlia Cortines
Passas, leve e sutil, sem trégua e sem cansaço.
Passas, e de teus pés vem rolar sob a planta
Tudo o que ri e chora e se lastima e canta.
Uma esteira de pó fica após o teu passo...
Quanta angústia desfeita em lágrimas, e quanta
Ilusão, que embalou um’hora o teu regaço,
Não pensaram, ness’hora inolvidada e santa,
Seguir contigo a estrada infinita do espaço!
E ao término fatal levaste-l’as, no entanto.
O monumento eril rui à tua passagem,
E transmuda-se em sombra a mais brilhante imagem.
Tarde ou cedo destróis tudo o que existe: o pranto
Secas, sustas o riso, e emudeces o grito
No lento caminhar através do infinito...
Fonte: "Versos; Vibrações", Academia Brasileira de Letras, 2010.
Originalmente publicado em: "Vibrações", Laemmert &C, 1905.