Natureza

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Poema de Francisca Júlia



Um contínuo voejar de moscas e de abelhas
agita os ares de um rumor de asas medrosas;
a Natureza ri pelas bocas vermelhas
tanto das flores más como das boas rosas.

Por contraste, hás de ouvir em noites tenebrosas
o grito dos chacais e o pranto das ovelhas,
brados de desespero e frases amorosas
pronunciadas, a medo, à concha das orelhas…

Ó Natureza, Ó Mãe pérfida! tu, que crias
na longa sucessão das noites e dos dias,
tanto aborto, que se transforma e se renova,

quando meu pobre corpo estiver sepultado,
Mãe! transforma-o também num chorão recurvado
para dar sombra fresca à minha própria cova.



Fonte: "Poesia reunida de Francisca Júlia", escamandro, 2015.
Originalmente publicado em: "Esfinges", Bentley Junior Editor, 1903.

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