O lago - Júlia Cortines

Júlia Cortines, poeta do Parnasianismo brasileiro.

Poema de Júlia Cortines



Um pouco d’água só, e, ao fundo, areia ou lama.
Um pouco d’água em que, no entanto, se retrata
O pássaro que o voo aos ares arrebata,
E o rubro e infindo céu do crepúsculo em chama.

Água que se transmuda em reluzente prata,
Quando, do bosque em flor, que as brisas embalsama,
A lua, como uma áurea e finíssima trama,
Pelos ombros da Noite a sua luz desata.

Poeta, como esse lago adormecido e mudo,
Onde não há, sequer, um frêmito de vida,
Onde tudo é ilusório e passageiro é tudo,

Existem, sobre um fundo, ou de lama ou de areia,
Almas em que tu vês apenas refletida
A tua alma, onde o sonho astros de oiro semeia.




Fonte: "Versos; Vibrações", Academia Brasileira de Letras, 2010.
Originalmente publicado em: "Vibrações", Laemmert &C, 1905.