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Poema de Júlia Cortines



Ao teu lado me sinto venturosa.
Partes: e logo a imensa soledade
Aos meus olhos se estende pavorosa.

O sofrimento súbito me invade
O coração, minha alma entristecida
Envolve-se no crepe da saudade.

Mas inda ouço a tua voz querida,
E a tua mão, oculta, me sustenta
Em meio às dores ásperas da vida.

Eis que rebrama a ríspida tormenta
E me arrebata e leva a luz divina,
O casto sonho que meu peito alenta.

A dúvida, que assombra e que alucina,
Se precipita, e morde, e dilacera
O coração co’a presa viperina.

Dessa atribulação ai! quem me dera
Voltar ainda às crenças do passado,
Tornar-me ainda no que dantes era.

Veria então brilhar iluminado
O horizonte de vida, aberto e puro,
Em vez de pôr o olhar, triste e magoado,

Nas solidões imensas do futuro...


Fonte: "Versos; Vibrações", Academia Brasileira de Letras, 2010.
Originalmente publicado em: "Versos", Tipografia Leuzinger, 1894.

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