Exílio


Poema de Casimiro de Abreu



Eu nasci além dos mares:
             Os meus lares,
Meus amores ficam lá!
- Onde canta nos retiros
             Seus suspiros,
Suspiros o sabiá!

Oh! que céu, que terra aquela,
             Rica e bela
Como o céu de claro anil!
Que seiva, que luz, que galas,
             Não exalas
Não exalas, meu Brasil!

Oh! que saudades tamanhas
             Das montanhas,
D'aqueles campos natais!
D'aquele céu de safira
             Que se mira,
Que se mira nos cristais!

Não amo a terra do exílio,
             Sou bom filho,
Quero a pátria, o meu país,
Quero a terra das mangueiras
             E as palmeiras,
E as palmeiras tão gentis!

Como a ave dos palmares
             Pelos ares
Fugindo do caçador;
Eu vivo longe do ninho,
             Sem carinho,
Sem carinho e sem amor!

Debalde eu olho e procuro...
             Tudo escuro
Só vejo em roda de mim!
Falta a luz do lar paterno
             Doce e terno,
Doce e terno para mim.

Distante do solo amado
             - Desterrado -
A vida não é feliz.
N'essa eterna primavera
             Quem me dera,
Quem me dera o meu país!



Fonte: "Obras Completas", B L Garnier, 1887.
Originalmente publicado em: "Primaveras", 1858.

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