A uma criança
Poema de Francisca Júlia
Choras, criança, mas chorar não deves;
entre a velhice e as tuas horas leves
é pequena a distância;
choras debalde; choras,
porque não sabes, flor, quanto são breves
da humana vida as horas,
porque não sabes quanto é bela a infância!
Tu, cuja vida é um suave paraíso
adornado de flores,
da nossa vida mísera de dores
amargas e revezes,
nunca invejes o júbilo indeciso,
porque teu pranto é menos triste, às vezes,
do que o nosso sorriso.
Os teus dias são rosas
que vicejam, alegres e radiosas,
nessas tuas manhãs de eternas galas;
nunca as desfolhes, gárrula criança;
deixa-as em paz, descansa,
deixa que o tempo venha desfolhá-las.
Fonte: "Poesia reunida de Francisca Júlia", escamandro, 2015.
Originalmente publicado em: "Mármores", Horacio Belfor Sabino Editor, 1895.