Três cantos - Casimiro de Abreu

Casimiro de Abreu, poeta do Romantismo brasileiro

Poema de Casimiro de Abreu



Quando se brinca contente
Ao despontar da existência
Nos folguedos de inocência,
Nos delírios de criança;
A alma, que desabrocha
Alegre, cândida e pura -
N'essa continua ventura
É toda um hino : - esperança!

Depois... na quadra ditosa,
Nos dias da juventude,
Quando o peito é um alaúde,
E que a fronte tem calor;
A alma que então se expande
Ardente, fogosa e bela -
Idolatrando a donzela
Soletra em trovas : - amor!

Mas quando a crença se esgota
Na taça dos desenganos,
E o lento correr dos anos
Envenena a mocidade;
Então a alma cansada
Dos belos sonhos despida,
Chorando a passada vida -
Só tem um canto: - saudade!




Fonte: "Obras Completas", B L Garnier, 1887.
Originalmente publicado em: "Primaveras", 1858.