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Imagem da poeta Beatriz Francisca de Assis

Poema de Beatriz Francisca de Assis



Que queres, Amor cruel?
Que mais pretendes de mim?
Porque maltratas assim
O meu coração fiel?
Do teu rancor todo o fel
Comigo esgotando estás,
Contra um peito que não faz
Resistência ao teu furor:
Para que é tanto rigor?
Vai-te, Amor, deixa-me em paz.

Vai empregar teu farpão
Contra peitos rebelados,
Que resistem denodados
A teu pesado grilhão;
Deixa um triste coração
Que já soubeste domar;
Não receies que quebrar
Possa as cadeias que adora;
Não, não temas; vai-te embora.
Vai outro sítio habitar.

Em tuas aras cruentas
Minha vida consagrei,
A liberdade te dei:
Fero Amor, que mais intentas?
Deixa est'alma que atormentas,
Que cede a teu furor ígneo;
Vai preencher teu desígnio
De outros triunfos e glorias;
Ajuntar novas vitorias
Vai ao teu cruel domínio.

Que triunfo, que vangloria
Alcanças em abater-me?
Contra um fraco peito inerme
Pode resultar-te gloria?
Ali! pondera, que vitoria
Não é rendidos domar;
Que um vencido atropelar
É fraqueza, é vitupério;
Vai, Amor, ao teu império
Outros peitos sujeitar.



Fonte: "Cantos da Mocidade", Casa Imperial, 1856.
Originalmente publicado em: "Cantos da Mocidade", Casa Imperial, 1856.

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