A um velho
Poema de Júlia Cortines
Pomba de amor, sua afeição primeira,
Seu delicado e perfumoso ninho,
Tecido pelos fios do carinho,
Prendeu à tua rama traiçoeira.
Se abria em flor, esplêndido e daninho,
O galho, onde ela, cândida e fagueira,
Pousou, dilacerando a feiticeira
Asa em oculto e recurvado espinho.
Hoje a invernia ríspida da idade,
Abatendo-te o orgulho e a feridade,
Mostra quão fraco e miserando és tu.
Pomba de amor, ela inda estende as asas,
Como uns farrapos trêmulos de gazas,
Para te agasalhar o tronco nu.
Fonte: "Versos; Vibrações", Academia Brasileira de Letras, 2010.
Originalmente publicado em: "Versos", Tipografia Leuzinger, 1894.