Canto da louca
Poema de Augusto Frederico Schmidt
Sou como um jardim noturno.
Os ventos bruscos visitam-me.
Os meus rosais estão perdidos.
As rosas, ainda em botão,
Foram arrancadas pela mão do vento.
Sou como um jardim noturno.
A terra dos meus canteiros foi revolvida.
As flores estão decepadas no chão.
A noite está suspensa sobre mim,
Como um véu de desespero.
Sou como um jardim noturno.
Meus perfumes, as almas das minhas flores,
Das minhas pobres flores mártires,
Estão sendo roubados pelo vento,
O vento está roubando os meus perfumes.
Sou como um jardim noturno.
A lua - com o seu rosto de morta -
Caiu sobre as águas da piscina.
A lua desceu, como um triste seio murcho,
Sobre a piscina, de águas geladas.
Sou como um jardim noturno.
O sol não virá esquentar minhas entranhas.
A noite, como um véu de desespero,
Ficará para sempre suspensa
Sobre o meu corpo misterioso.
Sou como um jardim noturno.
Os meus rosais, ah! os meus rosais!
Há um pássaro de voz desesperada
Que está cantando no meu peito,
Que está chorando as rosas mortas.
Sou como um jardim noturno.
Fonte: "50 poemas escolhidos pelo autor", Cadernos de Cultura/ME, 1957.