O espelho
Poema de Murilo Mendes
O céu investe contra o outro céu.
É terrível pensar que a morte está
Não apenas no fim, mas no princípio
Dos elementos vivos da criação.
Um plano superpõe-se a outro plano.
O mundo se balança entre dois olhos.
Ondas de terror que vão e voltam,
Luz amarga filtrando destes cílios.
Mas quem me vê? Eu mesmo me verei?
Correspondo a um arquétipo ideal.
Signo de futura realidade sou.
A manopla levanta-se pesada,
Atacando a armadura inviolável:
Partiu-se o vidro, incendiou-se o céu.
Fonte: "O Menino Experimental", Summus Editorial, 1979.
Originalmente publicado em: "Poesias", Editora José Olympio, 1959.