Comidas

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Poema de Jorge de Lima



Comer efó,
pimenta, jiló!
Iaiá me coma,
sou quimbombô!
Cobrei sustância
com mocotó!
Iaiá me diga,
nessa comida
você botou
mulata em pó?

Iaiá me coma
sou quimbombô!

Ai Bahia de Todos os Santos,
até nos pecados das comidas,
você botou nome santo?

Papos-de-anjo,
Peitinhos-de-freira,
Quindins-de-convento,
Fatias-da-sé!

Ai! Bahia de Todos os Santos,
o poema das suas comidas
foi São Benedito quem lhe ensinou?

Baba-de-moça,
Olho-de-sogra,
Levanta-marido,
Fatias-paridas,
Trouxinhas, Suspiros,
e Mimos-do-céu!

Bahia, estas comidas têm mandinga!
Bahia, esse tempero tem mocó!
Lá vem tabuleiro!
Cocadas, pipocas!
Lá vem verdureiro:
Pimenta, jiló!
Lá vem Frei Tomé:
Barriga-de-freira,
Toicinho-do-céu!

Bênção, Frei Tomé!
Moqueca, dendê,
Arroz com efó,
Pimenta, jiló!

Me coma Iaiá
que eu sou quimbombô!
que eu sou quimbombô!

Lá vem tabuleiro
de amendoim!
Comidas gostosas
mexidas por mim!

Me compre Iaiá
por São Bom Jesus
Senhor do Bonfim!



Fonte: "Novos poemas; Poemas escolhidos; Poemas negros", Editora Lacerda, 1997.
Originalmente publicado em: "Novos Poemas", 1929.


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