Cachimbo do Sertão

Imagem de Jorge de Lima

Poema de Jorge de Lima



Aqui é assim mesmo.
Não se empresta mulher,
não se empresta quartau
mas se empresta cachimbo
para se maginar.
Cachimbo de barro
massado com as mãos,
canudo comprido, que bom!
- Me dá uma fumaçada!

- Que coisa gostosa só é maginar!
Sertão vira brejo,
a seca é fartura,
desgraça nem há!
Que coisa gostosa só é cachimbar.
De dia e de noite, tem lua, tem viola.
As coisas de longe vêm logo pra perto.
O rio da gente vai, corre outra vez.
Se ouvem de novo histórias bonitas.
E a vida da gente menina outra vez
ciranda, ciranda debaixo do luar.
Se quer cachimbar, cachimbe sêo moço,
mas tenha cuidado! - O cachimbo de barro
se pode quebrar.



Fonte: "Novos poemas; Poemas escolhidos; Poemas negros", Editora Lacerda, 1997.
Originalmente publicado em: "Poemas Negros", 1947.


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