Idalina - Myriam Fraga
Poema de Myriam Fraga
Água de anil na tarde,
A roupa no varal
Acena despedidas.
Tua roupa lavada,
Teu perfume,
Cumplicidade de cheiros
Mais secretos.
A poesia como linho
Que se carda, como o puro
Esmalte das tigelas,
Onde a sopa
Evola seus incensos.
Quando chegares,
A ceia estará posta.
Teu doce favorito,
Teu prato predileto,
Frutas sobre a mesa
E a nódoa
De vinho na toalha.
A lâmpada acesa a um canto
E a luz mais forte
Do poema que escreves,
Enquanto a noite
Desata seus cabelos sobre a cama.
Esquecida no prato, a sopa,
Coagulando lembranças,
Como álibi.
Fonte: "Poesia reunida", Oiti, 2021.
Originalmente publicado em: "Femina", Fundação Casa de Jorge Amado/Copene, 1996.
