Grafito na pedra de minha mãe - Murilo Mendes
Poema de Murilo Mendes
A pedra abre os olhos mansos de colomba.
Morte polêmica
Morte que separa homem & sombra
rosa & espinho
Catapultou-me da esfera do teu ventre
Para este território ásperoanguloso
Onde soou no espaço
A primeira ruptura: tempo subtraído-te,
História em mito permutada
Eletronicamente.
História em mito permutada
Eletronicamente.
Bela / jovem / magnética
Talhada para canto & clavicímbalo
Te eclipsas no limiar do século
Que cedo iria me absorver
No seu contexto polêmico.
Extraindo-te de mim
Fechando-te magnólia mobile
selenocêntrica
Elisa Valentina minha filha unigênita
Tornaste-me
Espiritado esdrúxulo;
Geraste
Minha cosmogonia.
Fonte: "Poesia completa e prosa", Nova Aguilar, 1994.
Originalmente publicado em: "Convergência", Duas Cidades, 1970.
