O vento e seu enigma - Murilo Mendes
Poema de Murilo Mendes
1
O vento transporta
Sementes de ódio,
A cabeça entre dois pontos
Balança, igualmente hostis.
O eco de uma trombeta
Multiplicada por duas.
Coisas frívolas e úteis
O vento enérgico leva.
A cariátide enorme
Carrega o vento que sopra.
2
Vento que andas ventando
Lá para as bandas do sul,
Vento, vê se me transportas
A moça do lenço azul.
3
Talvez que numa época longínqua
Os homens possam inclinar os ouvidos
Para a visitação incessante do vento,
Possam vê-lo, andar com ele de braços
E aprender antigos segredos.
Talvez se reconciliem amor e morte,
O pai e os filhos dispersos pelo vento.
Fonte: "Poesia completa e prosa", Nova Aguilar, 1994.
Originalmente publicado em: "Mundo Enigma", Editora Globo, 1945.
