O mar - Murilo Mendes
Poema de Murilo Mendes
1
Debruço-me sobre o cais de onde não parte navio algum,
Vendo ouvir o mar esvoaçante.
O mar não me dá gana de partir,
O mar me dá gana de ser permanente, definitivo.
Em oposição ao mesmo mar
Que se debate e grita num comício perpétuo.
2
Dobrando a esquina encontro o tigre.
Não sou blindado como os navios para afrontá-lo,
Nem costumo uivar: Não sou vento.
Fico de longe, fazendo-lhe sinais
A que o farol vermelho e verde responde.
Que se passará nos salões da gaivota?
3
O mar do outro mundo, o mar regenerado
Incluirá suaves sirenas
Que nos atrairão para a vida.
O mar inocente e reduzido
Nós lhe traremos flores de coral.
Fonte: "Poesia completa e prosa", Nova Aguilar, 1994.
Originalmente publicado em: "Poesia liberdade", Editora Globo, 1945.
