Éden Hades - Olga Savary

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Poema de Olga Savary



Jardins de água fartavam-nos
de sol inchado em veias
pendendo como manga
e eu era como dono de navio
altivo e digno. Que nem vogal
aberta, abri portas para a areia
em repentina perda da memória.
Que o ar seja bebido tal um vinho.
Tudo o que é brisa aflora nos terraços
e vibra nos sargaços sobre as vagas.
Apanhada na armadilha
faz-se a treva manhã.
Estas as figurações do sonho:
uma placa de prata e um nome inscrito,
hoje apagado, gravado há muito,
muito tempo. E só. Os deuses nos convocam,
nos querem a todos porque nada querem,
riem de nós, perdem-nos ao nos buscar
e às nossas perguntas
fazem ouvidos moucos,
não respondem senão ao eco
oco. Tudo perde o sentido
mal é pronunciado.




Fonte: "Repertório selvagem - obra reunida", Biblioteca Nacional/ Multi Mais/ Universidade de Mogi das Cruzes, 1998.
Originalmente publicado em: "'Eden Hades", Massao Ohno Editor, 1994.