Visibilidade
Poema de Henriqueta Lisboa
Não me engana o visível.
Mas eu me engano com o que vejo.
Grave fantasma à vista
era uma nuvem sorrateira.
O visível acarreta disfarce.
Repto de distância e agouro
nunca se mostra tal e qual.
Aparecerá diferente
em estágio vindouro
quando de fato se desvende.
Recrio o visível
a meu desejo
com particulares matizes.
Invento o visível
de acordo com meus próprios olhos
para que através de cotejo
a novos prismas
outros olhos o vejam.
Fonte: "Obra completa", Editora Peirópolis, 2020.
Originalmente publicado em: "Pousada do ser", Editora Nova Fronteira, 1982.