Olhar sem tempo - Murilo Mendes
Poema de Murilo Mendes
Quem sou mesmo eu?
Sou um retrato de antepassado.
Sou aquela camisola que vesti
Há muitos anos atrás.
Sou o companheiro quase apagado
De uma menina que me bolinou
Há muitos anos atrás.
Sou uma valsa lenta
Brotando nos meus ouvidos.
Sou um cadáver, uma visagem
Que alguns sujeitos rindo
Levam sem flores num automóvel.
Sou um réprobo esperando a sentença final.
Fonte: "Poesia completa e prosa", Nova Aguilar, 1994.
Originalmente publicado em: "O visionário", José Olympio Editora, 1941.
