A madrugada - Murilo Mendes

Murilo Mendes - poeta de segunda geração do modernismo brasileiro

Poema de Murilo Mendes



1

Dorme o gigante dos ventos
Enquanto a lua trabalha.
Beija teus seios devagar.
Vem por aqui, meu amor,
Os cavalos voadores são amigos,
Nos levarão para o deserto branco.

2

Quem foi que colocou
Uma pedra no meu sonho
E os maiôs não puderam sair?
Minha mão direita virou árvore,
Vêm aves da estratosfera me visitar.

3

Maria acorda, namorada morta,
Os clarins do Clube "Flor do Amor"
Estão chamando nós dois:
Que luzes, que flores, jazbande excelente!
Que corpos suados de tanto dançarem.

4

A guerra passou, passou a Razão,
Já podemos conversar com a Virgem Maria;
Convidemos Judas e o Máscara de Ferro
A passear de táxi à beira-mar.
Podem-se tirar retratos elétricos
Que serão enviados a Saturno.

5

Estou esquecido das determinações do século.
Adeus máquina que móis minha tristeza:
Vou voltar para o seio da minha mulher pedra,
Ou então para mamãe água.




Fonte: "Poesia completa e prosa", Nova Aguilar, 1994.
Originalmente publicado em: "O visionário", José Olympio Editora, 1941.