A cadeira elétrica - Murilo Mendes
Poema de Murilo Mendes
Uma noite - talvez avisem no jornal -
Apertarei um botão no rochedo da carne,
O mar jorrará assim, aos borbotões,
Das minhas veias onde desliza
Modesto e manso, sem fazer barulho.
Alguém oferecerá o socorro das padiolas
De terra vermelha, talvez não atenderei.
Várias figueiras murcharão de inveja,
Os clarins das vitrolas anunciarão inutilmente
Que estou morre não morre, ninguém escutará.
As árvores - noivas que eu nunca amei dia nenhum
Torcerão a cabeleira, as filhas do relâmpago
Virão me buscar - o noivo está chegando -,
Mas eu preferia que num canto anônimo do mundo
Alguma menina meiga e pensativa
Desfolhasse um malmequer em minha intenção.
Fonte: "Poesia completa e prosa", Nova Aguilar, 1994.
Originalmente publicado em: "O visionário", José Olympio Editora, 1941.
Das minhas veias onde desliza
Modesto e manso, sem fazer barulho.
Alguém oferecerá o socorro das padiolas
De terra vermelha, talvez não atenderei.
Várias figueiras murcharão de inveja,
Os clarins das vitrolas anunciarão inutilmente
Que estou morre não morre, ninguém escutará.
As árvores - noivas que eu nunca amei dia nenhum
Torcerão a cabeleira, as filhas do relâmpago
Virão me buscar - o noivo está chegando -,
Mas eu preferia que num canto anônimo do mundo
Alguma menina meiga e pensativa
Desfolhasse um malmequer em minha intenção.
Fonte: "Poesia completa e prosa", Nova Aguilar, 1994.
Originalmente publicado em: "O visionário", José Olympio Editora, 1941.
