Pelo telefone


Poema de Donga e Mauro de Almeida



O chefe da polícia,
pelo telefone,
manda me avisar
Que, na Carioca,
tem uma roleta
para se jogar.

Ai, ai, ai,
é deixar mágoas pra trás, ó rapaz.
Ai, ai, ai,
fica triste, se és capaz, e verás.

Tomara que tu apanhes
pra não tornar a fazer isso,
tirar amores dos outros,
depois fazer seu feitiço.

Ai, se a rolinha,
Sinhô, Sinhô,
se embaraçou,
Sinhô, Sinhô,
é que a avezinha,
Sinhô, Sinhô,
nunca sambou.

Porque este samba,
Sinhô, Sinhô,
de arrepiar,
Sinhô, Sinhô,
põe perna bamba,
Sinhô, Sinhô,
mas faz gozar.

O peru me disse,
'se o Morcego visse
não fazia tolice',
que eu então saísse
dessa esquisitice
de disse-não-disse.

Ai, ai, ai,
aí está o canto ideal, triunfal.
Ai, ai, ai,
viva o nosso carnaval sem rival.

Se quem tira o amor dos outros,
por deus fosse castigado,
o mundo estava vazio
e o inferno habitado.

Queres ou não,
Sinhô, Sinhô,
vir pro cordão,
Sinhô, Sinhô,
é ser folião,
Sinhô, Sinhô,
de coração.

Porque este samba,
Sinhô, Sinhô,
de arrepiar,
Sinhô, Sinhô,
põe perna bamba,
Sinhô, Sinhô,
mas faz gozar.

Quem for bom de gosto
mostre-se disposto,
não procure encosto.
Tenha o riso posto,
faça alegre o rosto,
nada de desgosto.

Ai, ai, ai,
dança o samba com ardor, meu amor..
Ai, ai, ai,
pois quem dança não tem dor nem calor.




Fonte: "Acervo Digital Pixinguinha", 2023.
Originalmente publicado em: disco Odeon 12.132-2, 1916.