O cozinheiro
Poema de Chiquinha Gonzaga
1. Cozinheiro
Sou cozinheiro de espanto
Forno e fogão tudo aguento
Ninguém me ganha em serviço
Sou cozinheiro de feitiço
E se uma dama que é beleza
Vai à cozinha perguntar
Eu lhe respondo com famija
Tudo está bom é só jantar
Ai! Como é bom ser cozinheiro
É andar, andar a folgar
Ter a gente muito dinheiro
Sempre para gastar
2. Patroa
Escuta cá ó rapazola
Hoje me deu cá na cachola
Ter ao jantar pastéis de nata
E dobradinhas com batatas
Você que é bom nos seus guisados
Vai preparar-me de antemão
Uns camarões apimentados
Peixe ensopado com pirão.
Ponha pimentas malaguetas
Que eu sinta logo a ardor
Porque estou vendo as coisas pretas
Nessa questão de amor.
3. Cozinheiro
Para quem sofre paixonite
E sente falta de apetite
Deste programa eu já não saio
Não há comida como o paio
Ponha à panela o meu guisado
E boto os ovos com furor
Sai um quitute apimentado
Que o paio dá grande sabor.
Ai! Como é bom ser cozinheiro
É andar, andar a folgar
Ter a gente muito dinheiro
Sempre para gastar
4. Patroa
Ah! Isso não! Paio não quero
Não gosto dele, o seu espero
O cozinheiro da titia
Dá-me paio todo dia
Eu hoje estou tão romanesca
Só um quitute bem me faz
Vê se me arranja lingua fresca
Porque da língua eu gosto mais.
Ponha pimentas malaguetas
Que eu sinta logo a ardor
Porque estou vendo as coisas pretas
Nessa questão de amor.
Fonte: "Acervo Digital Chiquinha Gonzaga", 2011.
Originalmente publicado em: "Acervo Digital Chiquinha Gonzaga", 2011.