O afogado
Poema de Olga Savary
Na mesa posta de manhã
o cheiro acre-doce do seu corpo
que no mar vagou uma semana
invade e tempera o café.
Cria seu último gesto
(o levantar do braço como um aceno)
a onda que gravemente o traz
e vira de borco sobre a areia.
Águas do mar não correm duas vezes
sobre o mesmo leito. E ele precisa,
como vinhos e violinos, envelhecer.
Um a um saem da água os banhistas
quando, tal um destroço, ele vem dar à praia
que o mar agora é só do morto.
Fonte: "Repertório selvagem - obra reunida", Biblioteca Nacional/ Multi Mais/ Universidade de Mogi das Cruzes, 1998.
Originalmente publicado em: "'Eden Hades", Massao Ohno Editor, 1994.