Junho
Poema de Myriam Fraga
Noite fria, neblina...
Nos corpos acesos,
O esplendor das fogueiras.
Adorávamos o fogo;
Tão limpos e cruéis,
Tão santos e assassinos.
Pele de ovelha nos ombros,
Na boca,
Um gosto de salitre
E asas verdes.
Ah! os cátaros.
Um tronco de jaqueira,
As espigas de milho,
Arco-íris de papel
Na memória intocada.
Ah! os cátaros!
Do outro lado do abismo,
Outros fogos acesos
E os jogos, as adivinhas,
As sortes, os presságios...
À meia-noite em ponto,
Nos olhávamos no espelho;
Era tudo tão confuso,
Tão lampejos de prata, tão
Relâmpagos de faca.
A dançarina louca
Despia-se de suas pétalas,
Ah! os cátaros, os cátaros,
O amor tem destas fúrias,
Destas fomes de fera
E cabeças cortadas.
Ah! os cátaros!
Fonte: "Poesia reunida", Oiti, 2021.
Originalmente publicado em: "Femina", Fundação Casa de Jorge Amado/Copene, 1996.