Elegia I

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Poema de Orides Fontela



Mas para que serve o pássaro?
Nós o contemplamos inerte.
Nós o tocamos no mágico fulgor das penas.
De que serve o pássaro se
desnaturado o possuímos?

O que era vôo e eis
que é concreção letal e cor
paralisada, íris silente, nítido,
o que era infinito e eis
que é peso e forma, verbo fixado, lúdico

O que era pássaro e é
o objeto: jogo
de uma inocência que

o contempla e revive
- criança que tateia
no pássaro um
esquema de distâncias -

mas para que serve o pássaro?

O pássaro não serve. Arrítmicas
brandas asas repousam.




Fonte: "Poemas escolhidos", Nexus, 2021.
Originalmente publicado em: "Transposição", Instituto de Cultura Hispânica, 1969.