Segundo poema de abril: o navegador

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Poema de Mario Quintana



Vem vindo o Abril, tão belo em sua barca de ouro!
Vou contando os teus dedos...
um...
dois...
Cinco!
Mas até onde, me diz,
Até onde irá dar esta veiazinha, aqui?!
Amor, eu quero navegar-te!
Toda... de norte a sul...
Enquanto
Sentado à proa
Vestido de arlequim
Abril ponteia, bem devagarinho,
Com um dedo só seu bandolim azul.
 
Tu te abres como uma flor...
E
depois
o nosso olhar é límpido como as águas de um regato...
E distanciadamente falamos do mundo com todos os seus inclusives:
conflagrações, boatos, ataques, surpresas, compromissos...
E todas essas coisas atrozes são poemas a nossos ouvidos.




Fonte: "Poesia Completa", Editora Nova Aguilar, 2006.
Originalmente publicado em: "Baú de espantos", 1986.