Sabará - Raul Bopp

Raul Bopp, poeta da segunda geração do modernismo brasileiro, autor de "Cobra Norato"..

Poema de Raul Bopp



Brasil. Desfilam os rios.
Árvores combinaram ficar juntas.
Jacarés brincam de comichão na lama.

Meio-dia juntou sol.
Acendeu miragens no horizonte.
- Ai onde fica o Sabará?
- Por este lado, atrás da serra e mais três dias.

Bandeiras passaram. Nem deixaram rasto.

Outras cansaram. Não continuaram,
ou perderam-se do Sabará.

A água do rio engasgou. Secou.
Índio com alma hipotecada à floresta
fugiu por caminhos escondidos.

Negro ficou para trás.
Apalpou a terra.
O sol foi trabalhar nas lavouras.
O ouro cresceu pelos campos de milho.
África!

Em noites bojudas bate jongo.
Esvazia a alma no terreiro.

Na cidadezinha descalça praça verde-capim
moças solteiras sonham coisas de romance.

Noite passada Zabelinha fugiu.
Téu-téu ronda a casa.

Filho de dona Maruca foi mordido de cobra.

Paisagem rural:

Lá adiante
um morro com uma casinha no colo.
De tarde o sol se derrete na vidraça.

Voltam de longe os cargueiros recolhendo as estradas.




Fonte: "Poesia completa de Raul Bopp", José Olympio Editora, 2014.
Originalmente publicado em: "Poesias", Orell  Füssli,  1947.