Nas ruínas do convento de Angra dos Reis
Poema de Olga Savary
O tempo aqui não mais se move
embora do alto das ruínas
se testemunhe a vida descorando
entre úmidas folhas - nódoa
da tranquilidade na erosão.
Nossos passos imitam cautelosos
ao afastar de folhas e raízes
um vago som de água a cair.
Aqui foi uma cozinha
e a gente prende o ar julgando ouvir
desalinho de vozes retidas - alegria.
Paredes tombadas, janelas no vazio
dando para o mar à nossa frente
ou para nada,
raiz na antiquíssima parede,
musgo em sono esquecido longamente
como um desenho japonês - musgo no muro.
E o tempo aqui não mais se move
quando o silêncio fica e é
como todo o resto.
Fonte: "Repertório selvagem - obra reunida", Biblioteca Nacional/ Multi Mais/ Universidade de Mogi das Cruzes, 1998.
Originalmente publicado em: "Espelho Provisório", José Olympio, 1970.